Os Garis são a alma da Cidade

E o mundo como vai?

Choveu o dia inteiro e os garis, que reivindicavam aumento de salário (subiu de R$803 para R$1.100) deram fim a greve no Rio de Janeiro. 

O prefeito reconheceu o merecimento já que "os Garis são a alma da cidade", mas confessou que a Prefeitura terá que fazer "um esforço orçamentário".

Os Garis são a alma da cidade! Claro! Eles limpam sua sujeira! Possibilitam que o Carnaval aconteça e que as pessoas não precisem se preocupar em procurar lixeiras! Podem jogar tudo no chão, sempre terá alguém para limpar... aliás, aproveitem! Podem fazer xixi na rua, por que os banheiros químicos disponibilizados pela prefeitura estão todos cheios ou estão muito longe de onde passa o seu bloquinho... amanhã o caminhão lavará as ruas... alalaô!

E o lixo da sua casa, já pensou sobre isso? Ah, mas não precisa se preocupar! Existe coleta para ele, não é? E pra onde ele vai, você sabe? O que é feito dele? Isso também não diz respeito a você. Cada um com as suas funções, certo?

Certíssimo. 

Você pensa na quantidade de coisas inúteis que consome? E em quanto o seu consumo estimula a indústria a produzir cada vez mais? Isso também não é problema seu... já que o mundo é grande demais e uma atitude não mudaria em nada... o cansaço... a entrega... a praticidade... a tecnologia... a beleza...  é o fim!

Tornar-se consciente é um processo para toda vida. Encare como um exercício: TENTE! 

Primeiro tente se colocar no lugar do outro (principalmente de TODOS os seres vivos do planeta, ah, e se a cuca não fundir, pense naqueles que ainda irão nascer - filhos, netos... talvez a proximidade facilite!), pois é por/com eles que você seguirá tentando.

Tente cuidar do seu lixo: reaproveitando, reutilizando, reciclando, decompondo... se perguntando: preciso disso? Tente plantar! Mesmo que seja seus temperos em uma horta de apartamento. Tente andar de bicicleta em trajetos mais curtos (e seguros!) ao invés de carro. Tente levar sua sacola retornável ao supermercado. Tente dividir com quem tem menos. Tente ouvir, enxergar, sentir e viver o mundo como ele sendo você e você sendo ele. Seja amoroso.

Quem escreve esse texto tenta entender sobre o "progresso" em cima do fim. 

De tanto tentar vamos conseguir.

Ohana Homem.

O Nariz ou Entre os Olhos e a Boca

A idade batia e a energia também, ainda que a primeira vista tenham pensado o contrário. Havia de ser assim, ele era sisudo demais e ela (que moça fácil!) pensava que sisudo era quem tinha siso, o dente do juízo. 

-Quem tem dentes sorri e quem não tem... sorri engraçado. 

Sorria,  mas era prudente. Focava nos olhos dela tentando identificar o que tanto o impressionava. Já convivera com mulheres mais bonitas, mais inteligentes, mais talentosas, mais engraçadas... mais, mais, mais... pensava e ponderava todos os segundos do olhar dela pra ele. 

A moça que só olhava e nada pedia... Era perturbador tamanha conexão. 

Não conseguia negar o carinho e nem fazia questão de tentar, mas ainda tinha uma tristeza doida e doída. Ela deu amor de graça e isso não combinava com o mundo. Ela era a sua perturbação: sim/vem do meu lado/me guia/me da a mão.

Era fácil, mas não óbvia. 
O tempo foi curto e não quantificou ou qualificou nenhum sentimento - ela aceitou o fluxo e ele foi embora. O  coração dela - conectado com a vida - guarda os olhos curiosos já com muita saudade dos instantes sinceros destes encontros tão casuais.

Ohana Homem.

ATO I

(A "mulher peixe" sai da água e fala freneticamente):

Sinceramente, não sei se quero continuar com essa discussão. Estamos cansados e, talvez por isso, velhos pra tanto charme. A busca é longa e permanente, mas é partilhada e é pra frente! 

(Ela pensa que tem pouco tempo na superfície).

Ainda dá pra ouvir o repique, mas a gente não dança, não é? Então por quem meu coração balança? 

Aqui não há delicadeza, as coisas crescem como são e assim, curiosamente, formam camadas rústicas de solidão. E todos se enganam. Abafam, sufocam, mas continuam belíssimos a valsa do "tudo bem, meu bem".

(Seu tempo está raro).

 

Sei que você não concorda com nada disso, mesmo assim ... é, eu entendo. Mesmo assim não é bom criticar; é preciso aceitar.

Somos essas camadas. Aceite, por que apagar o que foi visto (e desejado) acaba com a vida.

(Despede-se entrando na água falando cada vez mais baixo):

O tempo é seu. Não queria continuar a discussão... 

O tempo é meu. 

Ohana Homem

Aconchego

Assim mesmo, com o nariz colado na minha vida.
Assim mesmo é que se encara... pode olhar...
O outro vai enxergar além do óbvio? 

O que deu. Sem um centímetro de distância, fale. Mas não perca o foco, não perca o cheiro.

Não lembro onde é a casa, nem quando frequentei essa conferência com mapas e lugares estranhos... Fomos um dia? Qualquer coisa, nem importa o que seja. Fomos o que deu?

Aproxime o que der. Consegue ver de perto ou a visão embaralha?
Precisa recuar um passo? A realidade, não é?
Nem sempre.

Qual será o perfil limpo ou lindo? De ser... sendo...  o que for...

Ohana Homem

Cierra los ojos

Cierra los ojos porque el elefante es tuyo corazón.

Resolveu que voltaria em quinze dias.

Mais seguro ERA caminhar com os cabelos compridos, do que dormir dentro do mar.  

Hemingway sabia como fazer.

Seja você mesmo. Os outros são idiotas.

O passeio visto de cima reluzia o atraso de vida e alguém trazia um detector de metais. 

Impressionante! O que se pode pensar de uma linha imaginaria... 

Bem, então é isso, deste lado é o mar e deste é o céu.

Parou no meio do caminho, pois havia uma flor e não uma pedra. 

Carlos e Quintana (juntos!) lhe deram o presente: la felicidad.

De férias não se importou com o sol. Sentia a pele queimar, a cabeça ferver. 

Sentia-se viva. 

Há outras maneiras de deixar a cabeça quente, lembrava Neruda. Esfrie um pouco, sussurrava Nietzsche. Tenho sorte.

-Aquela moto lá embaixo é sua?

Perguntou o gordo, Serge. Era francês e não era gordo. Queria dormir com ele e não dormir. 

Sugeriu que ele ficasse um pouco, caso ela desmaiasse. 

-Não se preocupe, estou aqui.

-Maravilloso encontrar buena gente como usted.

Adormeceu na areia, no lado do céu. 

Afofou uma nuvem doida e começou a chorar.

A mulher chorou dormindo e sabendo que iria acordar vôou pra longe inundando a cidade com sua busca invisível. 

Agora mora aqui do lado e não há mais de quem copiar, nem esconder. Estrela.

Pode voltar. O tempo é mesmo relativo e a verdade dos sonhos também.

Cierra los ojos.

Ohana Homem

REINO DE GÊMEOS

Os contos de fadas começam sempre com a frase: ERA UMA VEZ...
Mas esse conto, garanto que você nunca ouviu.
Começa diferente, pois tudo nele é dobrado! 
Inclusive a diversão!
Escute só!

ERAM DUAS VEZES um lugar chamado Reino de GÊMEOS. 
Lá morava o casal de irmãozinhos: Ju e Gui.
Essa duplinha, muito especial, nasceu da mesma barriga e quase ao mesmo tempo!
Gostavam muito um do outro e não se desgrudavam! 
Eram os "superirmãosamigos" e os guardiões do Doble del Castillo.

O Reino de GÊMEOS surgiu quando eles nasceram e, desde lá, tudo acontece em aos pares. 
Os dias pulam de dois em dois, não existe dias ímpares e os finais de semana são dobrados para as pessoas se divertirem por mais tempo!
Há duas leis: brincar e brincar em dobro!

Gui e Ju são o Príncipe e a Princesa do Reino de GÊMEOS e, por isso, têm alguns poderes mágicos! 
Um deles acontece quando entram na água. 
O Principe Gui vira um tubarão! 
Mas não precisa sentir medo. Ele é um tubarão muito bonzinho. 
Gui é amigo do cardume inteiro de peixes, do casal de moluscos, da dupla de baleias, do par de siris, dos dois polvinhos e de todos que moram na água.

A Princesa Ju quando mergulha, adivinhem! Vira uma linda sereiazinha, que encanta todo o oceano com seus olhinhos de jabuticaba!
A Juju fica muito engraçada quando se transformava em sereia. Ela não consegue parar de falar! 
Vira a Sereia Tagarela!
O Gui Tubarão se diverte com a Ju Sereia e nada fazendo cócegas na barriga da mana para ela rir também!

Todos os dias eles mergulham para ver seus amigos. 
Nadam e nadam, visitando a casa de todos com muita alegria!
Ah, eles adoram almoçar na casa da dupla de baleias. Sabe por quê? 
Pela sobremesa! Sempre tem muito chocolate, sorvete, melancia...
Sem esquecer da especialidade da Dona Baleia: sagu dos pampas!!! 
Vira e mexe, também vão filar uma bóia na casa do casal de moluscos. 
Lá sempre tem muito feijão e arroz!
Gui adora comer para ficar bem forte! 
E Juzinha ama comer para ficar cada dia mais bonita!
Os dois são muito bons de garfo! Eles sabem que comendo tudinho terão mais energia para as aventuras!

E as aventuras no Reino de GÊMEOS, é claro, são duplicadas!!!
Além da água, eles também têm uma floresta cheia de surpresas! 
A Floresta Especial! Os animais têm o dobro do tamanho! 
O preferido de Ju é o gato gigante, chamado Doismiau. 
O gato é tão grande, mas tão grande que parece um leão. Ele é todo branquinho, com as orelhas e o fucinho cor de rosa. Tem uma coleira azul onde Ju segura para nele subir e desvendar a floresta.

Gui é amigão do cachorro gigante, o Doisauau. 
Doisauau é quase do tamanho de um cavalo e bem pretinho! 
Na verdade, chega a reluzir de tão preto e no escuro só da pra ver os olhinhos!
Guizinho teve a ideia de colocar uma coleira que brilha no escuro. Assim fica bem fácil de encontrar o amigo no meio dos galhos e das árvores.
Doismiau e Doisauau são especiais não só no tamanho. Eles também falam a língua dos homens!

Juju aprendeu todas as línguas dos bichinhos. Aprendeu fácil, porque é muito inteligente e também porque adora conversar. Ela batia altos papos com todas as espécies e foi ela quem ensinou o Gui a latir e a miar.
Quando queriam tinham o poder de virar a gatinha Jujubis e o cachorrinho Guizin.
Mas Gui, que também não era bobo, nem nada, virou especialista em piar e cantarolar com os passarinhos.

Quando os passarinhos apareciam era, então, a hora de voltar para o Doble del Castillo.
Dois pares bicavam o vestidinho da Juju e outros dois a camisa e a bermuda do Guizinho. 
Voavam alto para o castelo!
No caminho, viam o Reino pequenino lá do céu e sorriam, pois era muito bom voltar para casa depois de um dia cheinho de aventuras com seus amigos especiais!

Ohana Homem

Ilustração: Cintia Freitas

 

 

Vou devorar você!

Opa, passarinho!

Quanto sorriso há nestes olhos!

E da vida, leve assim, quem vai contigo?

Ai! É tanto que te percebo que nem mais dúvida tenho!

Olha. Dirá que basta seguir sentindo, sem muito pensar... sem análise, sem vergonha... com coragem, com malícia.

Assim a vida vem! 

Assim é que se vive: buscando!

Vou cantar arranhado... meio tímida, meio gata...

o refrão que você mais gosta:

"Vou devorar você!"

E rindo juntos não há limites!

É a sintonia que existe entre pássaros, gatos e o amanhecer!

Ohana Homem